Um lugar onde prolifera todos os tipos de crime, além de muito ódio. As redes sociais, como Twitter, Instagram, Facebook e Tiktok, há muito têm provado serem ferramentas que precisam passar por regulamentação.
Seus proprietários, como Mark Zuckerberg e Elon Musk, são contra — o que não é de se espantar, já que o caos gera engajamento e, consequentemente, lucro.
A mais nova sensação da Netflix, a minissérie Adolescence, mostra um dos efeitos danosos que o mundo virtual, em especial as redes sociais, pode causar em pessoas de carne e osso, em sociedades como um todo.
Criada por Jack Thorne e Stephen Graham, a atração acompanha a história de Jamie Miller (Owen Cooper), um garoto de 13 anos acusado de matar uma menina da sua escola.
Com quatro potentes episódios, a atração aborda com responsabilidade vários temas atuais, como masculinidade tóxica, cultura incel, bullying e o efeito de conceitos nefastos na formação de jovens expostos a todo tipo de teorias na internet.
O brilhantismo da minissérie começa pela forma como foi gravada. Todos os quatro capítulos foram rodados em take únicos. Conforme este conteúdo do site Screen Rant, realmente não há cortes escondidos. A mágica em questão envolveu muito treinamento e várias gravações para cada episódio. Tome o terceiro como exemplo: para ir ao ar, foi escolhido o décimo primeiro take, capturado no último dia de gravação para aquele capítulo em questão.
Para se acomodar a este recurso, o roteiro sabiamente escolhe pontos distintos na linha do tempo da narrativa e ali faz com que diferentes aspectos da história avancem. Isso faz com que determinados episódios sejam protagonizados pelos policiais Luke Bascombe (Ashley Walters) e Misha Frank (Faye Marsay), há um dedicado apenas para Jamie e Briony Ariston (Erin Doherty), temos também espaço para a família de Jamie, com o pai Eddie (Stephen Graham), a mãe Manda (Christine Tremarco) e a irmã Lisa (Amélie Pease).
O elenco como um todo está ótimo. Entretanto, é preciso destacar dois nomes. O primeiro é Stephen Graham, que está dilacerante como o pai ausente que não quer acreditar que seu filho é responsável por um crime tão atroz.
Também temos o novato Owen Cooper, que dá um show em cena. É impressionante que alguém tão jovem e inexperiente consiga uma entrega tão absurdamente boa.
São dois nomes de peso que são fáceis de ver duelando nesta temporada de premiações que teremos pela frente. A depender do quão tumultuada ou esvaziada estiver a categoria de séries limitadas e telefilmes, é possível ainda termos muitos coadjuvantes de Adolescence competindo também.
A produção da Netflix tem sido muito comentada desde que fora lançada e parece ser para 2025 a grata surpresa que Baby Reindeer foi para 2024. São aqueles tipos de atração que unem um trabalho primoroso em cena com discussões profundas e necessárias.
Não há palavras para descrever o impacto do diálogo de Eddie e Manda já nos momentos finais de Adolescence. Eles, enquanto pais, tentam entender o que fizeram de errado, se culpam. Verdade é que criaram Jamie assim como criaram Lisa. Pessoas diferentes têm respostas distintas para todos os tipos de influências vindas de uma sociedade com ferramentas que facilmente podem radicalizar seres, principalmente aqueles mais vulneráveis.
Outra passagem marcante é quando Jamie fala para Ariston que é melhor que os outros garotos porque não abusou de Katie Leonard (Emilia Holliday), mesmo tendo a oportunidade para isso. É uma tristeza sem fim ver uma ótica misógina já internalizada em uma pessoa tão jovem.
Ao fim, acompanhamos Eddie chorar a morte de um filho que, apesar de ainda vivo, já não existe mais. O filho que ele achou que existia foi capturado por uma cultura de ódio que, se não freada, nos levará, no mundo real, a ter mais e mais Katies sendo assassinadas como se seus corpos fossem meros objetos descartáveis do patriarcado.
Nota (0-10): 10
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