Não é exagero dizer que a primeira temporada de Severance foi um marco disruptivo na televisão. Quando estreou, em 2022, a atração criada por Dan Erickson se mostrou uma grata surpresa que unia elementos irresistíveis, como um roteiro afiado, direção impecável, crítica social e muitos mistérios para prender o público.
Então fomos enrolados durante três anos até finalmente a série voltar. A ânsia para saber o que aconteceu com os protagonistas Mark Scout (Adam Scott), Helly (Britt Lower), Irving (John Turturro) e Dylan (Zach Cherry) era grande — tanta que pode ser constatada em números, já que Severance virou o show mais visto da Apple TV+, passando a comédia Ted Lasso.
Após rumores de conflitos atrás das câmeras e muita demora, esperava-se que os telespectadores seriam compensados pela paciência que foram obrigados a ter — e de fato fomos, em parte. Muitos spoilers a partir daqui.
A segunda temporada, com dez episódios, começou bem. Os dois primeiros capítulos se complementam e revelam que o fim bombástico da temporada inicial não mudou as coisas tanto assim.
Quem mais se prejudicou foi Harmony Cobel (Patricia Arquette), retirada do seu posto de responsável pelo setor de pessoas que passaram pelo procedimento de ruptura da memória. A saída dela fez com que Seth Milchick (Tramell Tillman) fosse promovido. Nós ganhamos com isso, já que o trabalho de Tillman é muito bom, principalmente quando o ator começa a dançar. Se há algo de interessante nas indústrias Lumon, é a presença de Milchick (ou Milkshake para alguns).
Com a saída da empresa, Harmony ficou bom tempo sem muita função na trama. De modo geral, muitos personagens principais foram afetados por um roteiro que foi displicente com eles. É o caso de Ricken (Michael Chernus), Burt (Christopher Walken) e, em especial, Gemma (Dichen Lachman). Soa estranho que a última, que tem um peso tão grande na história por ser a esposa de Mark, mal apareça até a reta final.
Por falar em reta final, é na segunda metade da temporada que a trama parece perder parcela do seu brilhantismo. O arco de Mark passar por um processo de união dos seus dois eus nunca se concretiza, parece algo que nem precisava ter sido iniciado.
E o que falar de Devon (Jen Tullock) telefonando para Harmony quando Mark está desacordado? Como assim parece uma boa ideia ligar para uma mulher que só mentiu para eles?
Pior: descobrem que Gemma está viva e aprisionada e nunca ninguém nem ao menos cogita ligar para a polícia ou para a imprensa?
Então chega o último capítulo da temporada e o innie Mark abandona Gemma em uma escada dentro da empresa, arriscando ela ser presa novamente, para sair correndo com Helly rumo a sei lá onde. É a fórmula de burradas perfeita para começarmos na terceira temporada com a Lumon mantendo o status quo.
Para quem demorou três anos para entregar uma temporada, Erickson parece não ter pensado tanto em soluções críveis e instigantes. A revelação sobre Cold Harbor e os números nos computadores serem parte da memória de Gemma é meio boba.
A série se descola da crítica social, com o culto ao capitalismo e à tecnologia e as implicações do trabalho na vida das pessoas, e afunda num aspecto fantasioso que peca por parecer cada vez menos crível.
Leia a crítica de Severance S1
Severance ainda é uma ótima série, mas a segunda temporada não é tão sólida quanto a primeira.
Nota (0-10): 6
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