O cineasta mexicano Alfonso Cuarón é, sem sombra de dúvidas, um gênio. Vencedor de inúmeros prêmios no Oscar, dois deles de melhor direção, ele é responsável por filmes emblemáticos como Roma e Gravidade.
Não por menos sua primeira incursão na TV, a minissérie Disclaimer, tornara-se assim uma obra que deveria ser assistida, até mesmo por ser protagonizada pela igualmente brilhante Cate Blanchett.
Disclaimer é uma produção baseada no livro homônimo de Renée Knight, lançado em 2015. A história é centrada em Catherine Ravenscroft (Blanchett na versão atual, Leila George no passado), uma jornalista que produz documentários e tem uma carreira consolidada. Seu mundo desaba quando Stephen Brigstocke (Kevin Kline) publica um livro que aborda algo ocorrido no passado de Catherine.
A grande sacada do enredo é a questão dos pontos de vista sobre uma mesma tragédia. Há inclusive mais de um narrador contanto a história — algo que, no fim das contas, em nada ajuda a minissérie.
A mensagem final é nítida: o perigo de aceitar uma verdade única vinda de um mensageiro nada confiável.
No papel, tudo parece funcionar bem. A minissérie, todavia, é ruim na prática.
Um ponto de vista é contado logo no início e sustentado durante cinco episódios sem reação de Catherine ou do roteiro, que mostra cenas do passado exatamente como escrito por Nancy Brigstocke (Lesley Manville), a verdadeira autora da obra literária que causa tantos problemas.
Ocorre que desde o princípio é muito óbvio para o público que Nancy não tinha como saber com tanta precisão sobre o que de fato aconteceu e preencheu lacunas conforme seu próprio interesse.
Isso torna irritante a forma como o mundo de Catherine rapidamente desmorona, com todos voltando-se contra ela — ainda que esse seja o ponto da atração, poderia haver mais empecilhos no plano de Stephen, que flui facilmente e torna a narrativa monótona até a reta final, quando a protagonista finalmente contra-ataca.
Nesse momento, uma reviravolta já é esperada, o que faz com que a mesma tenha efeito nulo de surpresa.
Pior: uma verdade absoluta é trocada por outra. Ainda que seja muito perverso duvidar da vítima, a mensagem principal da minissérie faz com que a narrativa de Catherine também precise ser encarada como algo talvez não 100% verdadeiro. Isso não acontece em cena.
No fim, parece que tudo é um arremedo de algo que tinha o potencial de ser bom e mais disruptivo.
Todos nós estamos suscetíveis a produzirmos trabalhos descartáveis — inclusive Cuarón.
Nota (0-10): 3
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