Especial: Troféu Temp 2024

Um ano conturbado: 2024, não diferente dos períodos antecessores, foi repleto de intriga e caos. Poderia chamar até de annus horribilis, lembrando assim indiretamente a já findada série The Crown. Todavia, a desesperança é crescente e sobressai a sensação de que tudo apenas vai piorar.

Nesse contexto preocupante, chegou a hora de eleger os destaques televisivos. Após coroar The Great como melhor atração de 2023, o Troféu Temp volta para sua oitava edição — creio que isto seja um ótimo motivo para comemorar.

Abaixo, Douglas Roehrs, criador do site, traz as produções, os episódios e as performances que se sobressaíram.

Melhor atração do ano: The Penguin

The Penguin, continuação direta do filme The Batman, de 2022, é uma obra magistral. O apuro técnico e o roteiro bem amarrado conquistaram público e crítica.

A minissérie é de certa forma polêmica pela brutalidade em cena. Todavia, levando em conta as misérias de nossas existências e o avançar do pensamento fascista, serve também como reflexão do quanto nossas sociedades estão adoecidas. É realidade transvestida de ficção. No fim das contas, Gotham pode ser aqui.

Segunda melhor atração: We Are Lady Parts

Com o intuito de desafiar o estigma que há com relação ao que significa ser uma mulher muçulmana atualmente, a cineasta britânica de origem paquistanesa Nida Manzoor recorreu ao seu passado para entregar uma obra fenomenal.

Manzoor, que é criadora, roteirista e diretora, trouxe uma segunda temporada ainda mais potente que a primeira. Seu humor peculiar, quase pastelão por vezes, encaixa perfeitamente com as partes dramáticas e nos dá a sensação de estarmos vendo algo único, não mais do mesmo.

Terceira melhor atração: Baby Reindeer

Certas produções televisivas são simplesmente viciantes. Baby Reindeer, minissérie fenômeno da Netflix, é uma delas. A atração é baseada em fatos reais, mais especificamente na vida do seu próprio criador, Richard Gadd, que também produz, protagoniza e escreve os 7 episódios. O trabalho é uma adaptação de duas apresentações suas nos palcos — uma é homônima e a outra se chama Monkey See Monkey Do.

Quarta melhor atração: Big Boys

A segunda temporada da série britânica semibiográfica conduzida com ternura por Jack Rooke nos atinge em cheio. É uma jornada que nos faz rir e chorar, deixa o coração apertado, nos enche de angústia, nos faz transbordar de amor. Seu único defeito: ter apenas seis enxutos episódios. Merecíamos mais, muito mais.

Quinta melhor atração: Industry

Criada por Mickey Down e Konrad Kay, a série Industry, da HBO, é uma daquelas atrações que começam sem muito alarde e, com o tempo, vão ganhando espaço no mundo televisivo a partir do momento em que mais e mais pessoas percebem a qualidade crescente do material.

Sexta melhor atração: English Teacher

Conservadores costumam dizer que o politicamente correto matou a comédia. Usam nossos pedidos por respeito como entrave enquanto o problema está na falta de criatividade deles, que só sabem repetir as mesmas “piadas” preconceituosas. Esta série, assim como tantas outras, mostra que a comédia vai bem, muito obrigado.

É fácil ver que a série não é politicamente correta e, ao mesmo tempo, não usa minorias como saco de pancada. Isso é humor. A capacidade de rir, de se reinventar. Quem reclama é geralmente porque não tem a capacidade de mudar.

Sétima melhor atração: Heartstopper

Uma série fofa e dilacerante. Alice Oseman, neste ano, vai fundo na questão da saúde mental dos protagonistas. Diagnosticado com TOC e com anorexia, Charlie passa por momentos horríveis. Dói tanto porque sabemos o quão real as cenas são.

Malala, vencedora do Nobel da Paz, fez participação especial no segundo ano de We Are Lady Parts

Melhor episódio do ano: Funny Muslim Song (We Are Lady Parts)

Após o grupo de protagonistas de We Are Lady Parts assinar com uma grande gravadora, Saira é censurada quando tenta fazer letras com teor político mais explícito. Essa censura é tão forte que se materializa na série com o fato da personagem não conseguir falar a palavra guerra. A personagem tenta o máximo possível, mas “war” simplesmente não aparece de forma alguma. É uma construção brilhante que termina, nos créditos do episódio, com a canção de uma musicista palestina. Sem em nenhum momento citar o genocídio perpetrado por Israel, a produção consegue fazer uma perfeita crítica do quanto o Ocidente cala vozes que ousam dizer algo que lhes desagrada.

Segundo melhor episódio: Episode 4 (Baby Reindeer)

É um episódio difícil de assistir, mas muito potente em seu resultado. Nele, Richard Gadd relata a violência sexual perpetrada por um homem mais velho com perfil predador.

Anna Sawai, atriz vencedora do prêmio Emmy por sua atuação em Shōgun

Melhor performance do ano: Anna Sawai (Shōgun)

Apesar da série Shōgun não ser tão boa quanto dizem e ter seus problemas de enredo, é inegável o magnetismo de Sawai em tela. A atriz merece todo o reconhecimento tido.

Segunda melhor performance: Jessica Gunning (Baby Reindeer)

Baby Reindeer certamente é boa em todos os aspectos. Todavia, uma grande parte do sucesso certamente é a atuação de Gunning, que é amplamente vista como nada menos que fenomenal.

Terceira melhor performance: Billy Crudup (The Morning Show)

Não é exagero dizer que Crudup parece ter nascido para interpretar Cory Ellison. O tom que ele dá para personagem tão contraditório faz nós nos apaixonarmos por uma figura que poderia ser apenas desprezível.

Desde Breaking Bad e o antológico Walter White, brilhantemente encarnado por Bryan Cranston, muitas produções tentam reproduzir o sucesso do anti-herói. Não é fácil trilhar o caminho cinzento entre a virtude e a maldade — e Crudup faz Ellison ser um exemplo positivo.

Quarta melhor performance: Minha Kim (Pachinko)

Sim, temos Youn Yuh-jung, uma vencedora do Oscar, interpretando a versão mais velha da antológica personagem Sunja. Todavia, quem brilha sem igual é Minha Kim, que vive a versão mais jovem da protagonista de Pachinko. É impressionante a capacidade que a atriz tem de nos envolver completamente na história dela.

Quinta melhor performance: Alice Braga (Dark Matter)

Talvez tenha certa imparcialidade aqui porque Braga é brasileira? Bem possível. Fato é que ela tem talento. Seu sorriso é inebriante e faz com que o público de Dark Matter facilmente se apaixone por ela. Seu inglês é tão afinado que parece até desnecessário a personagem ter passado tantos anos em São Paulo — óbvio que alguns diálogos em português aqui e ali são bacanas.

Leia também: os melhores filmes de 2024

***

Gostou deste conteúdo? Clique aqui para entrar na comunidade do Whatsapp e receber as novidades do Temporada

Avatar de Douglas Roehrs

Publicado por:

Deixe um comentário