Crítica The Penguin: um trabalho primoroso

A Marvel pode até estar em um período ruim — eu mesmo deixei de lado o seu interminável universo expandido antes do auge de Guerra Infinita e Endgame —, mas o que falar da DC? É quase chutar cachorro morto.

O caos é tanto que resolveram implodir o que existia e recomeçar sob o comando de James Gunn. Ficaram pelo caminho exceções que funcionam de maneira independente.

A continuação do glorioso filme Joker foi recentemente massacrada, certamente dando fim ao mundo de Todd Phillips. O mesmo não se pode dizer, ao menos por enquanto, do universo de Matt Reeves.

The Penguin, continuação direta do filme The Batman, de 2022, é uma obra magistral. O apuro técnico e o roteiro bem amarrado conquistaram público e crítica — é provável que tenha feito muita gente da DC e da Warner respirar aliviada.

Neste trabalho televisivo que serve de ponte para o próximo filme do Batman, Reeves atua como produtor executivo. A posição de showrunner fica por conta de Lauren LeFranc, que acerta ao dar ao material a mesma aura sombria da película que o precede.

É um trabalho visualmente impactante. A fotografia espetacular consegue fazer uma separação necessária entre Nova York, onde foi filmado, e Gotham City.

Também temos figurinos bem pensados e, óbvio, o amontoado de próteses e maquiagem que faz Colin Farrell, o protagonista, ficar irreconhecível.

Seu personagem, Oswald “Oz” Cobb, funciona como poucos. É um vilão que tem, ao seu modo, um fundo de humanidade que faz com que a gente se apegue a ele, mesmo sabendo de todas as suas falhas e do instinto assassino. Aliás, seu ato tenebroso no passado, quando ainda era criança, é demonstrado no momento correto.

Por sinal, a minissérie sabe perfeitamente quando inserir um pano de fundo para os três principais personagens: Oz, Sofia Falcone (Cristin Milioti) e Victor Aguilar (Rhenzy Feliz).

O caso de Sofia, em particular, é muito interessante. Assim como Oz, é uma personagem multifacetada, vai muito além do papel de vilã. Uma das frases mais poderosas vem dela, quando resolve não matar Eve (Carmen Ejogo) e inveja o fato de que nunca terá a lealdade de seus capangas como Eve tem das suas trabalhadoras. Milioti encarna perfeitamente a personagem.

Quem também dá show em cena é Deirdre O’Connell, que vive a mãe de Oz. Sua atuação é poderosa, merece indicações a prêmios de coadjuvante.

De modo geral, a atração merece reconhecimento em premiações futuras. De Farrell a O’Connell, do roteiro à direção, da fotografia à direção de arte.

A minissérie The Penguin é de certa forma polêmica pela brutalidade em cena. Todavia, levando em conta as misérias de nossas existências e o avançar do pensamento fascista, serve também como reflexão do quanto nossas sociedades estão adoecidas. É realidade transvestida de ficção. No fim das contas, Gotham pode ser aqui.

Nota (0-10): 10

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