Crítica Industry S3: selvageria capitalista

Criada por Mickey Down e Konrad Kay, a série Industry, da HBO, é uma daquelas atrações que começam sem muito alarde e, com o tempo, vão ganhando espaço no mundo televisivo a partir do momento em que mais e mais pessoas percebem a qualidade crescente do material.

A trama tem início com jovens graduados indo trabalhar no banco de investimentos Pierpoint & Co, em Londres. Se você, assim como eu, já considera o clima na cozinha de The Bear extremamente tóxico, ficará perplexo com a hostilidade diária que vemos no banco.

Os novatos Harper (Myha’la), Yasmin (Marisa Abela) e Robert (Harry Lawtey) provaram o pão que o banqueiro amassou até chegarem na terceira temporada, com 8 eletrizantes episódios.

A atração é incrível — afirmação que ganha mais peso vinda de alguém que é anticapitalista e metade do tempo nem mesmo entendo os termos financeiros ditos em cena.

Pra mim, sendo bem sincero, esse pessoal que trabalha com ações de empresas não passa de crianças que acharam uma forma nova de brincar, inventam regras e mercados na ânsia de não precisar nunca na vida crescer. Peter Pans.

A série não foge de mostrar o quão fantasioso é esse mundo, mas também não o ridiculariza. Há um equilíbrio interessante entre levar a sério o que está sendo feito e compreender o quão detestável e vazio é o mundo no qual essas pessoas vivem.

O mais fascinante é a capacidade do drama de jogar em nossas caras algumas verdades inconvenientes. Neste terceiro ano, por exemplo, a COP tem um papel importante no enredo e é pintada como um grande engodo. Qualquer um que acompanhe um pouco dessas conferências do clima já percebeu que não passa de um circo capitalista no qual os palhaços são aqueles que realmente acreditam que dali sairá a solução para salvar o planeta das mudanças climáticas.

Com o papel de Harper, temos ainda outro soco no estômago. Quando ela vai buscar investimentos, em determinado momento um personagem diz que ela deixa os negócios com uma face muito moderna — por ser uma mulher negra, no caso. Harper é rápida em entrar no jogo e dizer que a face é nova, mas o gosto em fazer negócios é o velho. Trocando em miúdos: ela é tão ardilosa quanto qualquer homem branco que a antecedeu. A questão identitária vira piada para alguém que passará por cima dos demais assim que necessário, independentemente do gênero ou da cor da pele.

Recentemente, eu gravei um vídeo a partir da pergunta: a pauta identitária é um problema?

Creio que Industry se alinhe muito nesta reflexão que podemos fazer sobre o assunto. Não basta ser queer, negro ou mulher, é preciso defender o direito de outras pessoas viverem plenamente e sem medo suas identidades.

Harper não luta por ninguém, assim como Eric (Ken Leung). São pessoas dispostas a atropelar qualquer um para chegarem onde almejam. É selvageria pura.

Quem ganha com isso? O público, se tiver estômago para tantas traições. Aliás, a terceira temporada em especial é repleta de reviravoltas, momentos engraçados, muita turbulência. Não é difícil perceber que o último episódio foi escrito como encerramento da série, assim garantindo um desfecho se ela fosse cancelada.

Não foi. A HBO e o público querem mais e a quarta temporada está garantida. Agora cabe aos criadores resgatarem seus personagens dos escombros e os jogarem no próximo furacão.

Nota (0-10): 9

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