A primeira temporada de The Morning Show, uma criação de Jay Carson, teve foco muito específico: o movimento #MeToo. O comportamento predatório de Mitch Kessler (Steve Carell) foi o fio narrativo principal da série protagonizada pelas jornalistas Alex Levy (Jennifer Aniston) e Bradley Jackson (Reese Witherspoon) — a última, por sinal, introduzida de maneira nada crível no programa matinal que dá título à série, mas um fato que acabamos relevando porque a história como um todo consegue fisgar o público.
Nova temporada, novos temas. Em seu segundo ano, The Morning Show lidou principalmente com a pandemia de covid e o clima deu uma caída. O encerramento do arco de Mitch Kessler foi mal conduzido e, pra piorar, o décimo episódio foi anticlímax, deixou um tom de frustração no ar.
Então veio a terceira temporada e a atração pareceu se reenergizar. O foco se voltou na dificuldade financeira que as empresas de comunicação estão sofrendo, principalmente as mais tradicionais, como canais da TV aberta que perdem público de forma vertiginosa.
Para grande vilão da vez, temos a inserção de Paul Marks (Jon Hamm), um bilionário da tecnologia que traz consigo ares de Elon Musk — com a diferença óbvia de que Hamm é um baita de um gostoso charmosão e Musk não passa de uma barata reacionária.
Como não poderia deixar de ser, Alex cai de amores pelo bad boy, dando de bandeja para Cory Ellison (Billy Crudup) uma das frases mais icônicas da série, na qual enfatiza o quanto a personagem de Aniston tem um gosto horrível para homens.
Por falar em Crudup, há pouco ele recebeu, pela segunda vez, o prêmio de melhor ator coadjuvante no Emmy, algo mais que merecido. Não é exagero dizer que ele parece ter nascido para interpretar Cory. O tom que ele dá para personagem tão contraditório faz nós nos apaixonarmos por uma figura que poderia ser apenas desprezível.
Desde Breaking Bad e o antológico Walter White, brilhantemente encarnado por Bryan Cranston, muitas produções tentam reproduzir o sucesso do anti-herói. Não é fácil trilhar o caminho cinzento entre a virtude e a maldade — e Crudup faz Cory Ellison ser um exemplo positivo.
O mesmo não pode ser dito de Alex e Bradley. Muitas de suas ações por vezes irritam. Aliás, o tom constantemente histérico de Alex é cansativo.
É compreensível que a série queira mostrar que o mundo tem suas nuances. O diálogo entre Mia (Karen Pittman) e Stella (Greta Lee), uma mulher negra e outra asiática, deixa isso bem nítido quando elas afirmam que a diferença entre elas e os homens brancos que comandam é que elas se sentem mal pelas pessoas derrubadas no caminho ao poder, enquanto eles não.
Todavia, muitas vezes as pessoas parecem não complexas, mas apenas contraditórias na atração. Todo o arco de Bradley acobertando o irmão que participou do ataque ao Capitólio no 6 de janeiro é de revirar os olhos. Já estamos na terceira temporada, quando essa personagem vai deixar de fazer patetices?
Enquanto as protagonistas ganham espaço de sobra para cometerem erros, as tramas de coadjuvantes sofrem pelo pouco espaço dado. Um bom exemplo é Christine Hunter (Nicole Beharie), nova âncora do programa matinal. A discussão dela sobre inequidade racial e direito ao aborto é muito boa, está em sintonia com assuntos do momento, mas ganha um ou dois episódios para evoluir e no resto do tempo quase some.
De modo geral, os coadjuvantes sempre sofreram com a falta de espaço na trama. Quem lembra do Ty Fitzgerald (Ruairi O’Connor) no segundo ano da atração? O ator tinha inclusive seu nome na vinheta de abertura, mas mal apareceu e nunca teve subtrama própria — e acabou sumindo neste ano sem explicação.
Néstor Carbonell, que recentemente ganhou um Emmy de ator convidado em Shōgun, tem presença mais marcante na saga japonesa no qual aparece em apenas 3 episódios do que em The Morning Show, onde é regular desde o começo.
Leia a crítica de The Morning Show S1
Fato é que a produção de Jay Carson muitas vezes parece ser escrita e reescrita às pressas, sem um olhar mais cuidadoso. Não merece todo o reconhecimento da crítica que tem tido. Entretanto, ainda que escorregue, não chega a cair e tem muito a nos dizer.
Nota (0-10): 6
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