Crítica The Regime: Kate Winslet protagoniza diarreia política

Há produções televisivas que nós assistimos por causa do gênero. Por exemplo: quero rir e procuro alguma comédia bem avaliada pelo público e pela crítica. Em outras ocasiões, é o enredo em si, como a vontade de conferir alguma atração com viagens no tempo.

No caso de The Regime, minissérie criada por Will Tracy, temos dois chamarizes: a atriz Kate Winslet, que aqui encarna a chanceler Elena Vernham, e o canal onde foi exibido, a HBO, que temos como sinônimo de qualidade.

Principalmente por se tratar da HBO, sempre politicamente muito antenada, a narrativa de The Regime frustra tanto.

Na história, Elena é uma governante autoritária de um país fictício do leste europeu. Quando pensamos em personalidades políticas femininas nada agradáveis do velho continente, os primeiros nomes que surgem nas nossas cabeças são de figuras como Margaret Thatcher e Marine Le Pen.

Tracy não quis que nós associássemos Elena a nenhuma pessoa real. Como podem ver nesta entrevista ao Hollywood Reporter, havia toda uma preocupação para que o público não ligasse a história a um político ou um país. O resultado disso? Nada bom.

Ao fugir tanto de fazer críticas mais diretas ao mundo real, a sátira política virou, em verdade, uma diarreia política com uma mensagem difícil de decifrar. No fim, parece que todos governos e governantes são farinha do mesmo saco — o que não está tão longe quanto eu gostaria da verdade, infelizmente, mas é uma mensagem superficial e tola demais, pior do que isso, até mesmo perigosa em um mundo onde cidadãos descontentes têm abraçado a extrema direita reacionária.

Winslet, como de costume, está bem, mas a Elena dela é enfraquecida por um roteiro quase sem humor, algo até incompreensível, levando em consideração que é uma sátira. A atuação acaba por vezes ficando muito pastelona para um drama que não tem sua identidade tão definida.

Nada na atração é uma tragédia, mas tudo parece um arremedo de uma história que poderia ser boa e relevante.

Tome a crítica aos EUA e seu papel intrusivo em outras nações. Ela excelente, está correta, mas sai da boca de uma personagem autoritária que faz sua população perecer. Logo, perde toda a credibilidade e parece um eco de lunáticos que odeiam o ocidente. Acaba sendo enfurecedor, ainda mais em um contexto onde a Casa Branca é corresponsável pelo genocídio do povo palestino. Está mais do que óbvio que tudo que Elena fala é verdade neste tema, mas saindo da boca dela a mensagem é ridicularizada.

Bem verdade que os acontecimentos do último capítulo de alguma forma remediam isso, mostrando que Washington de fato não se preocupa com democracia, apenas em ter aliados para explorar. Todavia, até ali, o estrago já está feito — e acaba caindo na mensagem superficial anteriormente já criticada.

É uma pena, pois a produção tem belas locações, como o palácio Schönbrunn. Também tem uma boa fotografia, com palhetas de cores que lembram um tanto The Handmaid’s Tale. Além de um elenco interessante, contanto ainda com a indicada ao Oscar Andrea Riseborough, que vive Agnes, e o valentão Matthias Schoenaerts, intérprete de Herbert Zubak.

A relação de Elena e Herbert, por sinal, está no centro da minissérie. É conflituosa, abusiva de ambos os lados — outro tema tratado com desleixo.

Assim como a massacrada The Idol, que nem me dei ao trabalho de assistir, The Regime é uma daquelas produções que a HBO provavelmente preferirá um dia esquecer que colocou no ar.

Nota (0-10): 3

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