Crítica Lost Boys & Fairies: drama traz casal gay em processo de adoção de criança

Gabriel (Sion Daniel Young) e Andy (Fra Fee) já estão juntos há oito anos. Enquanto o primeiro se apresenta como drag queen, o segundo tem um trabalho banal e sonha em ter uma família mais tradicional.

Parte de Andy o desejo do casal adotar uma criança, ponto de partida para a trama da minissérie britânica Lost Boys & Fairies, de Daf James.

Com três enxutos episódios, a produção foca nesse processo bem rigoroso de adoção. O primeiro ponto muito interessante é o quanto o fato do casal ser gay, um deles drag queen, em nenhum momento é tratado como empecilho. Há, sim, queerfobia, mas não por parte do Estado, apenas pelo pai de Gabriel, Emrys (William Thomas).

Esse é outro aspecto fortemente abordado na atração: os traumas de Gabriel. Antes de receber uma criança em casa, ele precisa lidar com o pai que o machuca, bem como a morte da mãe, que se foi quando ele ainda era jovem.

A minissérie consegue lidar bem com essa bagagem extra que a maioria das pessoas LGBTQIA+, principalmente as mais velhas, carrega consigo. Durante os dois primeiros episódios, há todo um processo de insegurança, recaída e volta por cima.

O enredo vai num caminho bem traçado, até mesmo tocando em alguns temas perversos, como os protagonistas ignorarem crianças com deficiência e crescidas.

Por vezes irrita a música melosa demais e intrusiva, além de alguns pontos forçados, como quando o casal gargalha de forma artificial após uma transa. Todavia, é algo que podemos remediar.

Até aí tudo bem, então chegam os instantes finais do segundo capítulo e a coisa desanda — grande spoiler a partir de agora, pule para o parágrafo final, iniciado em negrito, se não quiser saber.

É preciso falar sobre este fato porque ele muda drasticamente a história. O que acontece: Andy morre.

Isso decepciona por diferentes motivos. Primeiro, todo o caminho trilhado até ali é retrocedido. Gabriel tem uma grande recaída, fica muito mal, decide que quer adotar o jovem Jake (Leo Harris) de qualquer forma e precisa se reerguer novamente e lutar por isso.

Ocorre que acaba a minissérie com ele buscando Jake definitivamente, não há nada da história deles juntos de fato. Adotar uma criança, ainda mais uma mais velha já com bagagem própria, tem todo um processo de adaptação. Ao fazer com que a série repita todo o processo de Gabriel no último capítulo, não apenas fica repetitiva, mas nos tira o prazer de ver eles juntos como pai e filho e tentando curar suas feridas.

Outra questão muito forte diz respeito a tramas queer de modo geral, não esta em específico. Somos habituados a ver tragédia se tratando de gays. Lost Boys & Fairies faz sangrar quem costuma se ver sempre privado de um fim feliz.

É fácil dizer para avaliar o show apenas pelos seus méritos próprios, mas ele não existe num vácuo. Aliás, toda sua trama nasce de um contexto social muito específico — e por vezes cruel.

No fim, o recado é o seguinte: se você quer chorar, gosta de um melodrama, assista. Se já está vacinado após assistir atrações como This is Us, uma campeã em querer arrancar lágrimas das pessoas, então passe longe.

Obs: a nota final leva todo o contexto abordado na crítica em consideração. Neste caso, será natural que muita gente discorde completamente e diga que a minissérie merece bem mais.

Nota (0-10): 4

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