As produções televisivas estão cada vez melhores, mas às vezes dá saudade da época na qual sabíamos que uma nova temporada da sua série favorita começaria no setembro seguinte, na famosa fall season.
Após ter sua rodada inicial de 10 episódios exibida em meados de 2022, House of the Dragon voltou com 8 novos capítulos, dois anos depois.
Uma pergunta recorrente tem sido se a espera valeu a pena. A resposta, infelizmente, não é tão simples.
Geralmente não gosto de consumir opiniões de terceiros antes de escrever uma crítica. Todavia, neste caso foi inevitável navegar pela internet para ver o que o público estava dizendo após um fim de temporada recebido com muita animosidade.
A primeira reclamação é a mais óbvia: o episódio The Queen Who Ever Was é anticlímax. Um comentário interessante inclusive disse que o derradeiro capítulo do segundo ano mais parece, em verdade, um trailer para o terceiro.
Não há muito como contrapor esse ponto. É fato que após terminarmos a primeira temporada com o sentimento de que, sim, estava tudo preparado para a guerra começar, encerremos o segundo ano com o mesmíssimo sentimento.
Outro ponto muito comentado por quem odiou o que viu é a falta de grandes batalhas. Este, por sua vez, já acho mais aberto a discussões.
Tivemos uma única grande batalha em The Red Dragon and the Gold — que ao meu ver, aliás, mesmo tendo dragões, não está nem aos pés das melhores batalhas de Game of Thrones.
Podia ter outra maior e melhor? Certamente. O problema, entretanto, não é a falta de batalhas em si. Basta lembrar que o universo de George R. R. Martin que se debruça sobre a realeza sempre teve mais espaço para intrigas palacianas.
A grande questão é que as intrigas neste ano foram mornas e soaram repetitivas. De forma mais abrangente, parece que o show não andou.
Se pegarmos quatro dos principais personagens e separar suas jornadas, é fácil ver o quanto o enredo foi sofrível para tantos:
Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy) não fez praticamente nada a temporada inteira. A personagem nem de longe tem uma construção tão rica quanto a de Daenerys (Emilia Clarke). “Let us raise an army of bastards (vamos erguer um exército de bastardos)”, quando a rainha falou isso, confesso que pela primeira vez tive vontade de torcer por ela.
Alicent Hightower (Olivia Cooke) é outra que serviu para quase nada. Tiveram que arrumar dois encontros meio forçados entre as protagonistas para parecer que elas estão com funções na história.
Otto Hightower (Rhys Ifans) simplesmente foi chutado do cargo pelo neto e sumiu.
Daemon Targaryen (Matt Smith) literalmente passou a maior parte do tempo alucinando. Entendo que muita gente tenha se animado com as visões do futuro que ele teve que ligaram a série diretamente com Game of Thrones. No entanto, não me pareceu nada demais. Seu arco narrativo foi chato.
Este é o ponto, a chatice não é pela falta de lutas, mas pela falta de bons personagens com arcos bem desenvolvidos. Pior, sobram personagens que a gente nem lembra que existem e quem são.
Foi necessário ver um vídeo do Youtube sobre a árvore genealógica das famílias centrais de House of the Dragon para lembrar do tanto de crianças e adolescentes aqui e ali. Tem quem nem apareça, só seja mencionado, como um filho de Alicent que não está na capital.
Sendo direto: está confuso. A série não tem habilidade para desenvolver identidades próprias de muita gente que aparece. Um bom exemplo é lady Jeyne Arryn (Amanda Collin). Collin é uma atriz maravilhosa completamente desperdiçada aqui.
Ao mesmo tempo, a atração gasta energia com guerra na lama e com aquele personagem pentelho Ulf White (Tom Bennett), que conseguiu montar no Silverwing — prova de que até dragões têm dedo pobre para escolher pessoas.
Por mais que tenhamos tanto do que reclamar, é óbvio que a série não é a catástrofe que muita gente faz parecer. Ao bom estilo Game of Thrones, somos presenteados aqui e ali com cenas chocantes, como a decapitação de uma criança.
Tecnicamente, House of the Dragon também é incrível. Tantas cenas lindas, tantos cenários maravilhosos, figurinos deslumbrantes. Esse esmero criativo faz diferença para mergulharmos no mundo fantástico de Westeros.
E é uma lástima perceber que o episódio com nota mais baixa no Metacritic, Smallfolk, foi bombardeado pelo motivo errado. Tanta gente se incomodando com um beijo lésbico, mas que não enxerga problema algum em incesto e tantas outras loucuras da atração. O público conservador é uma bela bosta.
Provavelmente tenham sido as mesmas pessoas que reclamaram da família Velaryon ser negra. O preconceito é tanto que essa gente não suporta o mínimo de diversidade, é impressionante.
Leia a crítica de House of the Dragon S1
Para encerrar: já foi confirmado que a série terá mais duas temporadas. Se elas forem bem feitas e explosivas, creio que vão redimir a atual.
Parcela das críticas de hoje são justas, outras são descabidas ou, pior, apenas preconceituosas mesmo.
A produção tem um público muito elevado e, mesmo não chegando perto do auge de Game of Thrones, mostra que o apetite pelo universo de Martin continua grande.
Entre erros, catástrofes (a temporada final de GoT) e acertos, ainda não chegou a hora de dizer tchau para Westeros.
Nota (0-10): 6
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