O livro The Talented Mr. Ripley, o primeiro de cinco escritos por Patricia Highsmith com foco no personagem-título, já teve diferentes adaptações, sendo a mais famosa o filme de 1999 dirigido por Anthony Minghella, trabalho que teve 5 indicações ao Oscar e foi sucesso de bilheteria.
A introdução ao famoso personagem da literatura ganha nova roupagem, desta vez em forma de minissérie com 8 capítulos para a Netflix. Criada, escrita e dirigida pelo oscarizado Steven Zaillian, responsável pelos textos de Schindler’s List e Gangs of New York, entre outros, Ripley chama atenção logo de saída pela beleza estética.
Apresentada em preto e branco — que por si só já aumenta o caráter dramático e consegue dar outra plasticidade à obra —, a fotografia de Robert Elswit é um verdadeiro deleite. Como a história se passa nos anos 1960, na Itália, é preciso ressaltar que as próprias locações já ajudam muito.
A quantidade de História vista em cada esquina de cidades como Roma e Veneza tem peso no caráter de deslumbre do trabalho, potencializado ao máximo pelas lentes de Elswit. Um simples gato descansando ao lado do elevador quebrado rende um quadro de tamanha beleza que poderia ser emoldurado e colocado na parede.
Um simples subir e descer de escadas do protagonista Tom (Andrew Scott) se transforma em um enquadramento digno de ser visto. Por falar em Tom, é importante ressaltar que os protagonistas estão bem em seus papeis. Scott, recém presente nas telonas de forma brilhante em All of Us Strangers, é um dos queridinhos do momento. Dakota Fanning e Johnny Flynn, respectivamente Marge e Dickie, trazem um tom blasé que contrasta perfeitamente com a necessidade de Tom de se encaixar nesse mundo de privilégios.
A direção acertada de Zaillian, com seu ritmo slow burn, completa tais aspectos técnicos em perfeita comunhão. Eles até conseguem mascarar parcela dos problemas do roteiro, mas não todos.
Ao que parece, a minissérie é bem fiel ao livro, mais do que o filme de Minghella. Todavia, o que se avalia aqui é o resultado, se ele funciona ou não — e muitas vezes, infelizmente, a resposta é não.
A começar pela amizade de Tom e Dickie. O roteiro não se preocupa em nos convencer do porquê de Dickie manter em sua casa um hospede que trouxe um criminoso para o local e, pior, usou suas roupas e o imitou. Não há tensão sexual entre os dois personagens para justificar a manutenção do arranjo.
A própria personalidade de Tom não faz muito sentido. Para alguém que já era um trambiqueiro em Nova York e conseguiu ver a léguas de distância a mentira da mulher que precisava de dinheiro para o táxi, não soa crível sua ingenuidade com o jovem das malas, ao chegar na Itália, e com o criminoso com quem depois ele faz negócio.
Tratando-se de alguém teoricamente talentoso, a forma como ele tenta encobrir seus rastros também é bem burra. Desde o barco afundado de qualquer jeito até o modo como carrega Freddie (Eliot Sumner) para fora do apartamento.
A cereja do bolo, entretanto, é seu disfarce com peruca e barba ao receber o inspetor Ravini (Maurizio Lombardi). Se Tom, além do que fez, ainda colocasse um óculos e tentasse modular uma voz bem diferente da sua, talvez até poderíamos deixar passar. Todavia, do jeito que foi feito, simplesmente não há como acreditar que Ravini caiu naquela palhaçada.
Acaba que não há beleza no mundo que encubra uma história por vezes difícil de engolir. Sendo esses pecados originais ou não, uma adaptação serve justamente para adaptar o material. Que Tom um dia seja talentoso de verdade.
Nota (0-10): 6
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