Crítica The Gentlemen S1: a criminosa aristocracia britânica

Lançado em 2019, o filme The Gentlemen, de Guy Ritchie, é vendido como uma obra de ação e comédia. O mais engraçado disso — ou não — é que o longa-metragem carece de ambos. É muito difícil rir, pior ainda se animar com uma narrativa contada da pior forma possível. O enredo até é bom, mas fica maçante ao virar um quase monólogo de Hugh Grant.

Apesar das críticas mornas e dos apontamentos de racismo no roteiro, o filme lucrou US$ 115 milhões no mundo, sendo assim considerado um sucesso, já que custou US$ 22 milhões.

O retorno positivo abriu caminho para um spin-off televisivo de mesmo nome, lançado em 2024 na Netflix. Também sob o comando de Ritchie, a série The Gentlemen é um avanço perceptível na qualidade do material.

Durante os 8 episódios da primeira temporada, temos uma trama de fato com boa dose de humor e ação.

Theo James, que vive o protagonista Eddie, está longe de ser uma figura que transborda carisma. Pelo contrário, tem feições ao natural mais sisudas. Pode ser um demérito em outras produções, mas funciona bem no contexto de uma atração em que vive um soldado herdeiro criminoso.

Os aristocratas são os gangsters originais, em determinado momento aponta o personagem Stanley (Giancarlo Esposito). Provavelmente a melhor frase da obra, essa passagem também dá dimensão do papel anabolizado da elite britânica: se eram mais passivos no filme, agora ganham papel central no submundo do crime por meio da família de Eddie.

Na linha de frente do comércio ilegal de maconha ainda temos Susie (Kaya Scodelario). Fria e calculista, ela é o par ideal para o protagonista. Eles têm uma química muito boa no qual nada precisa ser dito.

Infelizmente, Ritchie tem seu estilo estravagante de comandar os trabalhos e faz questão que os coadjuvantes nos apontem o óbvio, essa tal química.

Ele também não deixa de lado o preconceito — que, no caso do filme, foi defendido pelo ator asiático Henry Golding, que argumentou ser a forma de gangsters se comunicarem na vida real.

Na série, o “chinaman” é trocado pelo grupo de “gypsies” (nômades) e talvez como forma de escudo pelos roteiristas, a palavra é dita primeiro por um homem negro.

Parece que Ritchie precisa pensar um pouco melhor no quanto ele quer emular um suposto linguajar pejorativo de criminosos e o quanto ele apenas está semeando racismo gratuito — até mesmo porque é possível formular um vocabulário pesado sem tornar grupos marginalizados a “piada”.

Um último apontamento é o quanto Freddy (Daniel Ings) e Jimmy (Michael Vu) mais irritam do que funcionam como alívio cômico. Freddy, em especial, bem que poderia dizer tchau logo. Que leve consigo as demais falhas da série.

Nota (0-10): 6

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