Memória. É um tanto curioso como nossos cérebros gravam imagens, textos, cheiros e tantas outras coisas de forma tão diversa. Tenho uma ponta de amargura com quem consegue lembrar de passagens longas de livros — no meu caso, não recordo uma única linha nem dos meus livros preferidos, Ensaio sobre a cegueira e As intermitências da morte, ambos de José Saramago.
Letras de música? Costumo cantar todas erradas, mesmo as fáceis. O que mais lembro são das sensações que tive. Talvez escreva críticas justamente por isso, para ter um arquivo um pouco mais detalhado do que simplesmente amei, gostei, não gostei, senti isso ou aquilo.
O Temporada não completou uma década ainda, de forma que as lembranças que tenho do desenho Avatar: The Last Airbender, uma criação de Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko, não são escritas e se resumem a eu ter amado muito, achado uma das melhores séries de todos os tempos.
De forma alguma saberia dizer detalhes da trama para além do básico, mas lembro do quanto fiquei fascinado pela maturidade do roteiro e pela riqueza do mundo criado.
Então veio a adaptação cinematográfica de M. Night Shyamalan, uma tragédia tão grande que é melhor fingir que nem existe.
Agora outra adaptação, desta vez televisiva e levada adiante por Albert Kim. Indo direto para a pergunta principal: vale a pena assistir? Não.
Com oito episódios, a versão em live-action da Netflix não chega aos pés do desenho original, que não é tão antigo assim e continua sendo cultuado por muitas pessoas. O sucesso foi tanto que tivemos até uma série spin-off, The Legend of Korra.
Não quero dizer que a versão mais recente seja horrível. Gordon Cormier, intérprete de Aang, é carismático e de modo geral a produção sustenta a grandiosidade visual necessária para recriar um universo tão exuberante.
Todavia, o roteiro deixa a desejar. Os diálogos não são os mais inspirados. Certas situações também não funcionam com o número reduzido de episódios. Sokka (Ian Ousley) tem picuinhas com a irmã que não fazem sentido, são nada engraçadas. Ele morrer de amores a cada nova personagem também não é legal. A gente compreende a intenção inicial de mostrar o quão volátil é o amor quando somos jovens. Ali, entretanto, tudo é apressado e esvazia a força da conexão dele com a princesa Yue (Amber Midthunder).
O núcleo da capital do Fogo parece ocupar mais espaço do que precisa. Zuko (Dallas Liu) e seu tio Iroh (Paul Sun-Hyung Lee) demoram a ficar interessantes.
Se fosse uma série original, talvez a nova versão de Avatar: The Last Airbender soasse mais atrativa por causa das surpresas que nos aguardariam. Assim, uma versão piorada do que já existe, só faz lembrar do quanto anda faltando originalidade no mundo.
Nota (0-10): 4
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