Durante muito tempo, a História foi masculina, branca, heterossexual, europeia, excludente. Essa visão míope do passado serviu a vários propósitos, um deles o de soterrar existências queer.
Felizmente, ainda que muito se tenha perdido, sabemos cada vez mais sobre figuras históricas abertamente gays — um deles sendo o rei James VI e I, que governou a Escócia e a Inglaterra até a sua morte, em 1625.
Todos sabiam dos amantes homens do rei, que tinha seu preferido. A narrativa de Mary & George, minissérie criada por D. C. Moore com base no livro de não ficção The King’s Assassin, de Benjamin Woolley, acompanha a ascensão de George Villiers (Nicholas Galitzine), que conta com a ajuda da mãe Mary (Julianne Moore) para se tornar amante de James (Tony Curran).
Para isso, a dupla precisa derrubar o até então preferido, Earl of Somerset (Laurie Davidson). Forma-se uma rede de crimes e intrigas que é prato cheio para a produção.
A história real é tão fascinante que fica a impressão de que a minissérie não está à altura do material de origem. Nada é ruim na atração. Entretanto, igualmente nada alcança o brilhantismo.
As atuações são boas, os figurinos são bons, a fotografia é boa. Tudo num nível medíocre, principalmente o roteiro.
Tive a coincidência de começar a ler nesta semana o livro Bad Gays: A Homosexual History, de Huw Lemmey e Ben Miller, e rei James é um dos personagens que tem capítulo próprio. Avancei até a sua história para saber o quanto se aproxima da minissérie.
Mary & George não corre léguas da verdade, mas simplifica o contexto político da época, por exemplo. Há uma forte repressão de católicos na ilha britânica em busca da consolidação da igreja anglicana, isso inclusive tem papel crucial no afastamento de James e seu primeiro grande amor, Esmé Stewart, Duke of Lennox, que morreu exilado na França e de onde enviou o seu coração embalsamado para James.
O roteiro também não sabe bem qual a personalidade de George. Às vezes, ele parece ter amadurecido. Noutros momentos, volta a vacilar e ser amedrontado. Certos momentos, parece amar o rei de verdade. Às vezes, fica óbvio que só está ali em busca de poder. Poderia ser um personagem multidimensional? Numa construção boa, sim. Ali, soa apenas vítima de um roteiro fraco.
O resultado pode agradar àqueles que buscam intrigas palacianas sem exigir muito. Frusta quem enxerga potencial para algo muito mais instigante e atrevido do que foi criado.
Nota (0-10): 5
Clique aqui para entrar na comunidade do Whatsapp e receber as novidades do Temporada

Deixe um comentário