Crítica One Day: superficial

Química. Apaixonar-se por alguém dificilmente é uma matemática exata. A aparência, o cheiro, o comportamento, o que é dito, o que fica nas entrelinhas. Aquele momento mágico em que você toca alguém e as engrenagens do amor começam a funcionar loucamente depende da química exata. Corpos plurais, combustível diferente.

O encontro de duas pessoas que vivem realidades bem distintas não é algo novo na ficção — e está presente na minissérie One Day, obra adaptada por Nicole Taylor para a Netflix a partir do livro homônimo de David Nicholls.

Os protagonistas Emma e Dexter são vividos, respectivamente, por Ambika Mod e Leo Woodall. Ambos atores têm carisma e plena capacidade de conduzir a história. São os maiores responsáveis por tornar agradável uma jornada capenga.

A premissa de cobrir 20 anos em 14 capítulos, sempre no mesmo dia do ano, é interessante num primeiro momento. Logo percebemos que torna a narrativa engessada e superficial.

Durante os episódios, o roteiro precisa dar pistas do que ocorreu nesse período de um ano entre um capítulo e outro. É anticlímax. Emma escreveu uma peça teatral e ninguém foi assistir? Eu queria ter visto isso. O casal finalmente transou pela primeira vez? Só sabemos pelo que foi dito. Engraçado que a minissérie quebra essa regra ao voltar no tempo e mostrar um pouco do que ocorreu no Natal de 1988, momento que traz nada demais.

Há uma deficiência estrutural e também nos diálogos. O primeiro encontro de Emma e Dexter não consegue nos convencer de que dali nascera um amor mútuo. De um lado, o bonito no padrão europeu que consegue ser bem burro. Do outro, uma menina que supostamente é inteligente.

O tempo todo temos pessoas dizendo o quanto a protagonista é boa. Entretanto, a atração nunca consegue provar isso. Os poemas são bobos, o livro deixado pelo caminho é um quase nada, os publicados não chegam a nós de nenhuma forma.

Outro ponto muito irritante: o olhar de desdém de Emma ao trabalhar numa lanchonete. É triste quando produções apenas conseguem enxergar determinados empregos como atestado de fracasso.

Acaba que o último episódio, feito para chorarmos, não emociona. Entendo que, sim, consegue encher os olhos de lágrimas de quem se apaixonou de qualquer jeito pelos personagens. Se a superficialidade dos atos não permitiu isso, junte-se a mim na busca pela química perfeita — no mundo das séries e fora dele.

Nota (0-10): 4

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