“É um show incrível, diferente de tudo que eu vi na televisão até então”, elogiou o cineasta Christopher Nolan ao falar sobre a minissérie The Curse, uma criação de Nathan Fielder e Benny Safdie, ambos presentes atrás e na frente das câmeras com Emma Stone.
Nolan fez uma comparação com Twin Peaks ao falar sobre a originalidade da atração — algo que deixaria qualquer um bem curioso para assistir à obra. Todavia, é tudo isso?
Na trama, Stone e Fielder são, respectivamente, Whitney e Asher, casal que está filmando um programa sobre moradias sustentáveis e a tentativa de revitalizar uma cidade. Safdie é Dougie, o diretor dessa série documental que explora não apenas as novas construções, mas a vida do casal protagonista.
Indicada há pouco tempo ao Globo de Ouro por este papel, Stone sem sombra de dúvida está maravilha. Ela é uma das grandes atrizes de sua geração e tem conseguido embarcar em projetos significativos.
Os assuntos tratados pelo roteiro também são variados e interessantes: gentrificação, desrespeito ao povo nativo norte-americano, a venda de produtos com narrativas descoladas total ou parcialmente da realidade etc.
Uma cena em especial engloba muito do que estamos falando. As casas espelhadas de Whitney deixam pássaros desorientados, tanto que em determinado momento um bate contra a parede e morre. A reação da proprietária é de total indiferença, apenas quer que mais esse animal entre outros que sofreram o mesmo destino seja retirado dali. Para alguém que se preocupa tanto com o meio ambiente, uma imensidão de hipocrisia.
Agrada o fato de os personagens não serem unidimensionais e da história pisar em tantos calos. Entretanto, isso não torna o roteiro menos arrastado e, pior, muitas vezes repetitivo na mensagem que está passando.
Um fim bom poderia salvar essa caminhada desafiadora para o público, mas não é o que acontece — grande spoiler do décimo episódio, Green Queen, daqui para frente, não prossiga se não quiser saber do desfecho.
No capítulo em questão, Asher desafia as leis da gravidade ao acordar no teto de casa. Enquanto tenta saber o que acontece com ele, a esposa entra em trabalho de parto. No fim, agarrado em um galho de árvore e desacreditado por Dougie e pelos bombeiros de que “cairá para cima” caso se solte, tem como destino o espaço sideral, após cortarem o galho.
Tem-se discutido sobre o que quer dizer esta imersão profunda no surreal — lembrando que a atração flerta com o sobrenatural ao falar sobre maldições.
Uma hipótese levantada é de que ele foi tragado para longe porque Whitney não o queria mais ao seu lado e ele havia prometido que desapareceria se ela sentisse isso.
Uma resposta convincente. No entanto, aposto que a resposta correta reside em outro trecho da história. Durante uma exibição sua, Cara (Nizhonniya Austin) monta uma tenda para receber visitantes, um de cada vez, como parte da obra. Ali ela fatia um pedaço de carne, oferece para a pessoa e, após isso, grita. Whitney, que é branca e comeu o pedaço oferecido, achou — ou ao menos fingiu achar — tudo genial. Mais adiante, força uma resposta para a experiência tida.
Já James Toledo (Gary Farmer), que é nativo, não age como o esperado e percebe a superficialidade da ação após Cara reagir dando a impressão de que não sabe bem o que fazer. Ele diz: é isso?, desdenhando da experiência.
Vejo Fielder e Sadtie fazendo a mesma coisa com o público de The Curse. Teremos muita gente branca e privilegiada encantada com o mistério. No fundo, os criadores estão lucrando e rindo da cara dos demais com qualquer coisa mal pensada.
Funcionada se dá certo. Neste caso, é um truque ruim que faz desmoronar uma casa construída em fundações instáveis.
Nota (0-10): 3
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