Crítica Fargo S5: de personagens caricatos aos diferentes conceitos de liberdade

Esta é uma história real ocorrida em Minnesota, em 2019. Para preservar a identidade dos sobreviventes, os nomes foram trocados. Em respeito aos mortos, o resto é contado exatamente como aconteceu.

A mensagem inicial de cada episódio da quinta temporada de Fargo, minissérie criada por Noah Hawley, assim como os anos anteriores, busca manter ligação com o filme de origem de 1996. Ocorre que, apesar da incessante mensagem, estamos diante de uma obra ficcional.

Uma bela obra ficcional, vale frisar. O trabalho de Hawley foi impecável nas três primeiras temporadas — desculpem-me, mas nunca cheguei a assistir à quarta.

Dessa forma, as expectativas eram elevadas para a quinta. O primeiro episódio, The Tragedy of the Commons, não decepciona. Com habitual precisão, o roteiro nos conduz calmamente por uma trama com cenas muitas vezes surreais, dá um ar de seriedade e gravidade para algo que facilmente poderia ser pastiche.

Dorothy ‘Dot’ Lyon é uma boa protagonista e Juno Temple está ótima ao encarnar a personagem. Ela tem essa mistura fundamental de uma doce dona de casa e mãe amorosa com a ferocidade de uma sobrevivente, alguém muito mais forte que sua aparência faz crer.

A história transcorre bem — até não mais nos convencer.

O grande problema é a presença de personagens que não funcionam. Lorraine (Jennifer Jason Leigh) é o ápice dessa tragédia. Ela é caricata ao extremo. Nunca achei que torceria tanto o nariz para uma atuação em Fargo. Ela é a perfeita vilã de telenovela mexicana.

Wayne (David Rysdahl), seu filho, apesar de excessivamente bobo, ainda consegue se salvar durante algum tempo por causa do carisma de Rysdahl. Depois do personagem se lesionar, todavia, vira um completo inútil na trama.

Ole Munch (Sam Spruell), quieto e estranho, é mais do mesmo. Tem uma personalidade que parece reciclada de outrora.

Roy (Jon Hamm) tinha tudo para ser icônico. Assim como Lorraine, peca pelo excesso. Não há nuances, é totalmente unidimensional. Roy é o perfeito exemplo de republicano trumpista que mistura a Constituição com a Bíblia e vive a sua própria verdade, que se molda aos seu desejos.

Ele busca sua liberdade, mas que liberdade é essa? Esse é o questionamento mais interessante da atração. Estamos diante de uma nação fragmentada, ressentida, pronta para uma guerra civil. Os Estados Unidos se transformaram num campo minado.

Leia a crítica de Fargo S3

Em meio a hostilidades crescentes, Hawley ainda adiciona uma pitada de sobrenatural, que também não funciona bem. A névoa que cobre parte do terreno nos capítulos finais é uma alegoria para o que a produção se transformou. Em alguns lugares, visibilidade quase nula. Em outros, uma névoa bem esparsa. Havia ainda lugar praticamente sem. Um espaço pequeno e situações díspares. Assim como o país retratado, a qualidade de Fargo também está rachada.

Nota (0-10): 5

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