Tentativa de golpe no Brasil. Eleição de um anarcocapitalista na Argentina. Massacre do povo palestino que continua a vitimar milhares de mulheres e crianças. Uma patética COP em Dubai enquanto as mudanças climáticas mostram cada vez mais força. 2023 foi um ano de altos e baixos em diversos aspectos, inclusive o cultural. Tivemos uma longa greve de atores e roteiristas nos EUA e muitas produções foram paralisadas temporariamente ou até mesmo abandonadas. Felizmente, ambos os sindicatos de trabalhadores saíram vitoriosos em seus pleitos.
Nesse turbilhão de fatos e emoções, chegou a hora de eleger os destaques televisivos. Após coroar Pachinko como melhor atração de 2022, o Troféu Temp está de volta. Abaixo, Douglas Roehrs, criador do site, traz as produções, os episódios e as performances que se sobressaíram.
Melhor atração do ano: The Great
Assim como Catherine fez história ao governar a Rússia, The Great consolidou o seu reinado na televisão. A comédia criada por Tony McNamara impressionou ao chegar com total robustez em sua terceira temporada.
Infelizmente, foi o fim da jornada. Entretanto, é preciso destacar que foi uma estupenda jornada. Os diferentes aspectos ligados à produção funcionaram sempre muito bem e é uma pena que a série nunca tenha recebido a merecida atenção do público e das premiações. O Temp está aqui para desfazer esse equívoco. Descanse em paz, Catherine.
Segunda melhor atração do ano: Beef
Beef é uma daquelas produções que te fisgam como poucas. Você termina um dos 10 enxutos episódios e logo quer assistir ao próximo. É viciante, pois mistura boas performances, enredo curioso, roteiro afiado e um misto de solidão, raiva, dor, amor e carinho com o qual conseguimos nos ver refletidos de alguma forma em vários momentos.
Terceira melhor atração do ano: Happy Valley
Uma série que durou três enxutas temporadas com seis episódios cada, num intervalo entre 2014 e 2023 — sim, os britânicos sabem como testar a paciência do público.
Pode ser curta, mas Happy Valley também foi magistral. O drama policial criado por Sally Wainwright já entrou para a história da televisão como um dos mais bem executados.
Quarta melhor atração do ano: Schmigadoon!
Ao prestar homenagem a musicais como Chicago, Hair, Sweeney Todd e Cabaret, a atração trouxe consigo sensualidade, perigo, humor e músicas empolgantes.
Com um elenco cativante e dose elevada de conflitos, Schmigaddon! — Schmicago temporariamente — mostra que uma série pode se reinventar dentro de sua própria premissa e, o melhor de tudo, entregar um espetáculo imperdível.
Quinta melhor atração do ano: Welcome to Chippendales
Se você gosta de Magic Mike – e strippers masculinos de maneira geral –, há uma pessoa a quem agradecer: Somen “Steve” Banerjee, criador do primeiro clube onde homens se despem para mulheres, em Los Angeles.
A saga de Steve, contada no livro Deadly Dance: The Chippendales Murders, de K. Scot Macdonald e Patrick MontesDeOca, foi adaptava para a TV na minissérie Welcome to Chippendales, criada por Robert Siegel para o serviço de streaming Hulu.
Entre uma cheirada de cocaína e algumas bundas rebolando freneticamente, a trama avança de forma segura. Assim, a atração se torna uma boa dica para entreter em dias nublados.
Sexta melhor atração: Rain Dogs
Uma mãe solteira que tenta se manter sóbria, publicar o seu primeiro livro e ter um teto para morar. Um gay privilegiado que acabou de sair da prisão e tem temperamento imprevisível. Eles são melhores amigos. A relação, recheada de amor e de abandonos, é a força motriz de Rain Dogs, comédia dramática britânica criada por Cash Carraway.
Sétima melhor atração: The Marvelous Mrs. Maisel
Uma daquelas séries que saem de cena para entrar na história da televisão, assim podemos definir The Marvelous Mrs. Maisel, criação de Amy Sherman-Palladino. Durante cinco temporadas, a comédia nos presenteou com um roteiro sempre afiado, performances memoráveis, direção precisa, fotografia acima da média e direção de arte linda.
Oitava melhor atração: Heartstopper
A série acerta muito, mas muito mesmo ao abordar a questão de saúde mental da população queer. Foi devastador quando Charlie revelou a automutilação à época em que mais sofria com o bullying. É muito difícil algum jovem LGBTQIA+ não ter passado por experiências horrorosas na adolescência e isso nos marca para sempre.
Por isso, a série não é apenas fofa ao extremo. Ela é muito importante para adolescentes que precisam ser reconfortados.
Melhor episódio: Long, Long Time (The Last of Us)
Se há algum consenso no mundo, é de que Long, Long Time foi o ápice narrativo deste ano. Murray Bartlett e Nick Offerman, que vivem respectivamente Frank e Bill, estão dilacerantes como o casal que deixou todos apaixonados e chorando. Bravo.
Segundo Melhor Episódio: Deer Lady (Reservation Dogs)
Em Deer Lady, capítulo que leva o nome da personagem central na ocasião, fazemos uma viagem ao passado em escolas católicas que abusavam de crianças indígenas. É cruel e dolorido. Não há como não chorar no fim. A barbárie colonial é demonstrada de forma certeira para atingir nossos corações.
Terceiro melhor episódio: Calypso’s Birthday (Our Flag Means Death)
Em sua segunda temporada, a comédia Our Flag Means Death mostra que não há limites para o amor. Após um primeiro ano focado em estabelecer o universo da pirataria e a relação entre Stede Bonnet (Rhys Darby), o Gentleman Pirate, e Edward “Ed” Teach (Taika Waititi), o Blackbeard, a produção criada por David Jenkins está livre para mergulhar nas alegrias e dores de estar apaixonado.
A apoteose dessa celebração queer foi Wee (Kristian Nairn) de drag queen e Izzy (Con O’Neill) performando La Vie en rose no capítulo Calypso’s Birthday. Tudo isso em uma festa que foi interrompida por agressores que torturaram a tripulação que há pouco se divertia. Essa mistura de amor, violência, morte e comédia é o que faz da série tão especial.
Melhor performance: Alice Carvalho (Cangaço Novo)
Alice Carvalho é um fenômeno em cena. Essa mulher porreta de boa, num mundo justo, ganharia o Emmy de melhor atriz. Ela consegue trazer toda a complexidade da sua personagem. É incrível a jornada de sua Dinorah num bando extremamente machista — e os roteiristas acertam muito na forma como a personagem é obrigada a lidar com isso.
Cangaço Novo definitivamente não seria a mesma sem a presença marcante de Carvalho.
Segunda melhor performance: Meryl Streep (Only Murders in the Building)
Streep é uma potência em cena. Não há adjetivos suficientes no mundo para dizer o quanto ela é uma tremenda atriz. A presença oscarizada dela, ainda que menor do que gostaria, não é desperdiçada. Ela mostra a sua força e encaixa-se perfeitamente a um roteiro que sabe lidar bem com situações mirabolantes.
Terceira melhor performance: Jessica Chastain (George & Tammy)
A minissérie pode até ter deixado a desejar, mas Chastain, como de costume, mostra sua versatilidade e total entrega ao papel. Há um trabalho vocal bem feito e que nos passa verdade. Estamos diante de uma das melhores atrizes de sua geração.
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