Se hoje a trajetória profissional de uma mulher não é fácil, imagine nos anos 1950 e 1960. Elizabeth Zott (Brie Larson), uma mente brilhante, sonhava em ser pesquisadora. Todavia, seu primeiro achado fora a misoginia.
A história de Lessons in Chemistry é tão verossímil que muitos se perguntam se seria baseada em fatos reais. Ainda que a minissérie desenvolvida por Lee Eisenberg tenha como fonte o livro fictício de Bonnie Garmus, todos nós conseguimos ver ali o espelho da nossa sociedade.
A protagonista, que poderia ser encarada como fria mas ganha contornos doces com Larson, precisa lidar com três principais temas: trabalho, amor e maternidade.
Para nossa sorte, a produção encontrou um par romântico tão afetuoso de modo atípico quanto a Zott de Larson. Lewis Pullman nos conquista com seu Calvin Evans, um químico com traço neurodivergente e coração mais generoso do que aparenta.
A relação funciona muito bem porque mostra a compatibilidade de duas pessoas que, de modo geral, podem ter maior dificuldade em encontrar o amor. Pessoas interessantes e que nos despertam as mais variadas sensações são mais raras do que parece — e esse encontro é apaixonante para o público por parecer mais especial do que o mero aproximar de dois corpos socialmente considerados bonitos.
A relação de Zott com a filha Mad (Alice Halsey) também está um passo além do trivial ao desromantizar a maternidade e mostrar uma convivência sadia onde a criança é tratada como um ser inteligente merecedor de carinho e respeito.
Para enfrentar essa jornada da maternidade, quem ajuda muito é a vizinha Harriet Sloane (Aja Naomi King), mulher negra que deixou o Direito de lado — ao menos temporariamente — para criar os filhos.
Sloane ganha seu arco pessoal numa luta antirracista em defesa do bairro em que mora. Narrativamente, a série caminha muito bem com sua história e de Zott até os dois episódios finais — grandes spoilers a partir de agora, pare se não quiser saber.
É compreensível Sloane ter uma derrota judicial, levando em conta todo o contexto racista de nossas sociedades. Entretanto, esse fracasso machuca mais por se tratar se uma atração pensada como série limitada, sem continuação.
O peso de Calvin Evans na trama, sendo que ele morre no segundo capítulo, também é desmedido e rouba muito espaço para os ganhos profissionais de Zott na reta final. A revelação de que ele é filho de uma mulher rica, em especial, é bem desnecessária e não precisava existir naquele ponto.
A construção de uma família por parte de Zott é bonita e satisfatória. Todavia, ir e vir no tempo entre os anos iniciais e o período em que ela é uma apresentadora de TV que ajuda as mulheres que acompanham o programa, tudo isso para depois abandonar sua profissão e por breve tempo mostrar o trabalho em sala de aula, faz parecer que fomos roubados do verdadeiro clímax, toda a construção até então fora para um emprego passageiro.
Não se trata de categorizar um serviço como mais importante do que o outro, mas de entender que a série pavimentou o caminho para a televisão, mas ignorou a ida para a sala de aula.
Uma história feita para ser discutida. Também feita para ser amada. Quem dera um dia possamos ver Zott e Sloane novamente. Seria um prazer.
Nota (0-10): 8
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