Crítica The Fall of the House of Usher: muita poesia e pouco terror

Mike Flanagan já é há tempos um nome de referência no terror. Em sua despedida da Netflix, acaba de lançar a minissérie The Fall of the House of Usher, inspirada em obras de Edgar Allan Poe e com um toque contemporâneo ao adicionar a família Sackler ao mix.

Não vou me demorar no terror real perpetrado pelos Sackler — aqui você pode ter uma ideia —, até mesmo porque já tivemos muitas produções ficcionais e documentais que beberam da mesma fonte, sendo um bom exemplo Dopesick.

A crítica social será pincelada no fim do texto. Antes, vamos aos aspectos técnicos. Como de costume, Flanagan dirige o material com esmero. Assim como seus recentes trabalhos na Netflix, não podemos reclamar de desleixo estético. Em momento algum estamos diante de uma produção trash.

O elenco também leva muito a série o seu papel. Samantha Sloyan, que interpreta Tamerlane, mais uma vez demonstra seu domínio dramático. Willa Fitzgerald, a versão jovem de Madeline, surpreende e conquista o posto de nossa malvada favorita. Carla Gugino consegue tornar até mesmo a Morte sedutora.

O problema reside no roteiro, que é desnecessariamente rebuscado em muitos momentos e até mesmo anticlímax. O primeiro episódio promete muito, dando até certo pavor com a cena da mãe de Roderick (Bruce Greenwood e Zach Gilford nas versões mais velha e adulta, respectivamente) e Madeline deixando o caixão.

A partir do segundo capítulo, todavia, entramos no piloto automático. Sabemos que dali para frente morrerá um herdeiro de Roderick no fim de cada ciclo. O mais absurdo é a decisão de antecipar não apenas quem será, mas como será. Por que mostrar, por exemplo, Perry (Sauriyan Sapkota) queimado antes da tragédia?

A atração acaba se tornando previsível, algo anteriormente já sentido em The Midnight Club, outro trabalho de Flanagan — criador que, por sinal, gosta de cometer os mesmos erros.

Assim como em Midnight Mass, em The Fall of the House of Usher também temos um texto por vezes prolixo. É irritante porque soa falso. As pessoas normalmente não conversam daquela forma, como se estivessem recitando um poema.

O pior, todavia, fica por conta do discurso de despedida de Madeline (Mary McDonnell na versão mais velha). A crítica social que ela faz foi escrita de forma pedestre, sem nuances, um texto de panfleto de ONG. A mensagem já fora passada no decorrer da minissérie. Flanagan poderia ser menos óbvio na abordagem.

Com a morte dos protagonistas e a queda da casa, termina assim uma parceria de sucesso entre o criador e o serviço de streaming. Resultados questionáveis, mas acréscimos interessantes para um gênero nem sempre tratado como merece.

Nota (0-10): 5

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