Kate Wyler (Keri Russell) não queria ser embaixadora no Reino Unido, tampouco cotada para o cargo de vice-presidenta dos Estados Unidos. Seu desejo não é o que mais importa quando se está casada com o astuto e mentiroso Hal (Rufus Sewell). Alia-se a esse turbilhão de emoções pessoais um conflito internacional deflagrado após um porta-aviões britânico ser atacado no Golfo Pérsico.
Esse mar de conflitos faz girar a trama de The Diplomat, série criada por Debora Cahn, escritora e produtora que esteve envolvida nas duas últimas temporadas de Homeland — algo bem perceptível na nova atração.
Kate lembra Carrie (Claire Danes) de muitas formas. Sua inteligência e competência, a inadequação para relações afetivas, os sacrifícios feitos em nome daquela que considera ser a solução correta, o estilo de se vestir.
Esse último aspecto, por sinal, é o traço herdado que parece fazer menos sentido. Enquanto Carrie é uma agente da CIA que luta com uma arma na mão, Kate é — como o título bem diz — uma diplomata envolvida em intrigas palacianas. Nesse ponto de sua carreira, não deveria ser tão difícil assim usar uma roupa qualquer para um evento oficial e depois voltar ao seu guarda-roupas habitual. Aliás, ao tratar isso como uma questão que traz ruído e, no oitavo e último episódio da primeira temporada, mostrá-la com um vestido longo vermelho, dá importância demais para algo que a própria protagonista consideraria irrelevante.
Para além das questões de figurino, é importante dizer que o roteiro do drama funciona. Mesmo que a ação se limite na maior parte do tempo a diálogos rápidos, somos fisgados pela narrativa. O texto é ágil e eficaz. Há uma dose adequada de adrenalina e mistérios para querermos assistir ao capítulo seguinte logo.
Também temos um bom elenco. Curiosidade: Rory Kinnear, que aqui interpreta o primeiro-ministro Nicol Trowbridge, mais uma vez é alguém que queremos socar o rosto, assim como suas presenças no filme Men, de Alex Garland, que recomendo muito.
O ponto mais robusto, todavia, é a reviravolta final — grande spoiler adiante. É normal os Estados Unidos demonizarem a Rússia e os países do Oriente Médio. Ao abrir a possibilidade de que o próprio líder britânico tenha feito o ataque por questões internas, a série acerta. Após vivermos uma era de Trump e Boris Johnson, nada mais justo que uma dose de realidade para os imperialistas do Atlântico Norte. Que essa revelação se concretize na segunda temporada e tenhamos Kate perseguindo os demônios que moram na sua própria casa.
Nota (0-10): 8

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