O mundo da culinária tem sido um prato cheio para o cinema e a televisão. Desde reality shows e produções documentais até a ficção. Um bom exemplo recente é o filme de terror The Menu, de Mark Mylod. No entanto, tem uma produção que vem se destacando acima da média desde a sua estreia. Estamos falando da série The Bear, de Christopher Storer.
Ambientada em Chicago, a atração acompanha a cozinha caótica comandada por Carmen (Jeremy Allen White), chef que abandonou sua posição em renomado restaurante ao herdar uma espelunca do irmão que se suicidou.
Nesse universo quase sempre frenético, destacam-se os trabalhos de direção, atuação e, principalmente, edição. A série é muito eficaz em transmitir o constante senso de urgência sem parecer canastrona.
O lado ruim é que isso não torna toda situação exposta menos tóxica. Em certa medida, estamos diante de uma versão mais pobre de Succession. Todavia, ao contrário desta, que eu abandonei após a primeira temporada porque todos os personagens são irritantes, The Bear consegue apresentar pessoas que nos despertam empatia.
Um bom exemplo é Marcus (Lionel Boyce). Foi lindo ver ele ganhar mais espaço, inclusive indo para outro país para aprimorar os seus conhecimentos. Tina (Liza Colón-Zayas) é outra personagem maravilhosa. Seu sorriso quando algo positivo acontece é de aquecer corações.
Quando a série foca no crescimento dos seus envolvidos, ela é ótima. Quando ela insiste em destratar a todos, algo que pode agradar a muitos, principalmente o público norte-americano, que é doido, fica cansativa.
O episódio Fishes, aclamado e com participações estreladas, é o ápice dessas relações tóxicas. Sinceramente, fica chato a partir de certo ponto. É muita gritaria, muita burrice, falta de noção. Só pra dizer que nem tudo foi perdido nesse capítulo, temos a majestosa atuação de Jamie Lee Curtis como Donna, a matriarca Berzatto. Ela pode até não ter merecido o Oscar por Everything Everywhere All at Once, mas certamente merecerá o Emmy de atriz convidada em The Bear.
Outro ponto de ruído diz respeito a presenças queer. Elas inexistem. Até aí, tudo bem. Entretanto, em mais de uma ocasião a homossexualidade é trazida no roteiro de modo negativo. Nesta temporada, com Donna perguntando se um dos convidados é gay. Na anterior, com Richie (Ebon Moss-Bachrach) classificando certas coisas como gay.
Por falar no Richie, ele é um pé no saco. Ainda que o seu episódio de redenção seja interessante, ficou meio falsa essa mudança da cachaça para o vinho na sua conduta. Sim, que bom que ele virou uma pessoa melhor, mas a mudança deveria ser mais suave, durante as duas temporadas, e não num intervalo tão curto.
Assim, entre gritos e amores, é inegável o poder da produção em nos fisgar. Ainda que desperte desconfianças, vale ver a terceira parte antes de decidir o veredicto da série como um todo.
Nota (0-10): 7

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