Artigo: a era de ouro das comédias na TV

Quem cresceu nos anos 1990 e 2000 provavelmente tenha esta visão das produções televisivas: os dramas de um lado, com um padrão de qualidade cada vez mais elevado; e as comédias do outro, com sitcons tecnicamente simples e piadas repetitivas e de gosto duvidoso.

Basta assistir a meia dúzia de episódios de Friends para perceber que ela envelheceu muito mal. A “comédia” amadureceu como um show de preconceitos. Demais sucessos de outrora vão pelo mesmo caminho, como Two and a Half Men e The Big Bang Theory. Rir do oprimido era a norma, faltava inteligência para qualquer coisa que desafiasse os roteiristas e os espectadores.

Felizmente, em um período relativamente curto, essa equação medonha foi reformulada. Com o avanço dos serviços de streaming e a qualidade elevada de canais como a HBO, chegamos a um cenário em que as comédias vivem o seu auge criativo.

The Marvelous Mrs. Maisel é um exemplo perfeito de que estamos da era de ouro da televisão. Não apenas o roteiro é super engraçado, mas as atuações são incríveis, a direção de arte é linda, a fotografia é cinematográfica, a direção é precisa. Enfim, algo a milhas de distância daqueles cenários quaisquer que serviam para as gravações em frente a uma audiência ao vivo — ou pior do que isso, sem audiência, mas com gargalhadas pré-gravadas.

Para a nossa felicidade, Midge Maisel não é a única a encantar. Catherine reina em The Great, outra série tecnicamente impecável, com figurinos deslumbrantes e locações belas. É uma dessas produções, assim como Veep, que provam na prática que é possível fazer humor subversivo sem usar oprimidos como saco de pancada.

Mesmo produções como Abbott Elementary, tecnicamente mais modestas, são um imenso avanço no que se refere ao texto. Os diálogos afiados e corretos fazem pensar que se passaram dois séculos entre a veiculação destas atrações e da tão festejada Friends.

As comédias atuais não apenas chegam ao nível do brilhantismo muitas vezes, elas também são bem diversas entre si: Reservation Dogs, Ted Lasso, Somebody Somewhere, Schmigadoon! e What We Do in the Shadows são bons exemplos da variedade existente. Todas têm arcos narrativos diferentes e algo em comum: nos encantam.

Arrisco a dizer, inclusive, que neste momento temos um número mais atrativo de boas comédias do que de bons dramas — algo impensável para anos atrás.

Óbvio que não é uma competição. Todavia, é tão lindo ver o patinho feio virar um cisne. Que mais séries inteligentes e desafiadoras continuem a surgir.

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